Grupo folclórico nascido na luta contra a segregação social mantém viva a memória do cangaço e a identidade sertaneja
Paulo Afonso (BA) – Em 1956, operários da CHESF, inspirados pela coragem e rebeldia do cangaço, fundaram um grupo carnavalesco que viria a se tornar um símbolo de resistência cultural: "Os Cangaceiros de Paulo Afonso". Hoje, como associação folclórica, o grupo preserva não apenas as tradições do sertão, mas também a história de uma comunidade que enfrentou a exclusão social imposta pela divisão de classes na região.
Das Ruas ao Folclore: Uma Trajetória de Luta
Criado por Guilherme Luís dos Santos, um trabalhador sergipano que migrou para Paulo Afonso em busca de emprego, o grupo surgiu como uma resposta à marginalização dos moradores da Vila Poty, excluídos dos festejos carnavalescos restritos aos funcionários da CHESF. "Seu Guilherme abriu mão do clube privativo para brincar o Carnaval com o povo", conta um dos integrantes.
Inicialmente formado apenas por homens – incluindo a figura de Maria Bonita, interpretada por um homem –, o grupo evoluiu, incorporou mulheres e se transformou em uma referência cultural, levando para escolas e eventos as histórias de Lampião, Maria Bonita, Corisco e Dadá.
Indumentária e Simbologia: A Estética da Resistência
Vestidos de azul – cor usada por Lampião em suas entradas nas cidades –, os integrantes carregam chapéus adornados, punhais de madeira e adereços que remetem ao cangaço. "Cada um decora sua roupa, mas o chapéu, o lenço e a alpercata são obrigatórios", explica um membro.
Mais do que uma representação artística, o grupo ressignifica a imagem do cangaço, visto não como banditismo, mas como resistência à opressão. "Lampião era um homem corajoso, e o resto é cultura", afirma um dos fundadores.
Mulheres no Comando: Rompendo Barreiras
Se no início as mulheres eram invisibilizadas, hoje elas ocupam posições de liderança, inclusive a presidência do grupo. "Aos poucos, as mulheres foram entrando e fortalecendo o grupo", relata um integrante. Essa mudança reflete não só a quebra do patriarcado, mas também o reconhecimento do papel feminino na história do cangaço.
Patrimônio Imaterial: O Reconhecimento que ainda falta
Apesar de sua importância histórica, o grupo ainda busca o título de Patrimônio Cultural Imaterial, um reconhecimento que validaria décadas de resistência e preservação da cultura sertaneja. Enquanto isso, seguem nas ruas, nas escolas e nos palcos, mantendo viva a chama da identidade nordestina.
"Os Cangaceiros de Paulo Afonso" não são apenas um grupo folclórico – são a voz de um povo que resiste.
Fonte: GRUPO CULTURAL OS CANGACEIROS DE PAULO AFONSO: Um legado de luta, resistência e ancestralidade (pablo vinicius costa barros)